Teletrabalho: quais são os desafios dos novos trabalhadores remotos?

_ Em 2017, dos 2.8 milhões de trabalhadores portugueses por conta de outrem, apenas 779 profissionais (0,02%) estavam abrangidos por contratos que incluíam teletrabalho.
_ Os principais desafios dos teletrabalhadores dizem respeito à produtividade, gestão de problemas, tempos de resposta e distrações em casa.
_ A disciplina é definida como a característica pessoal mais importante para o trabalho remoto.

Passar de um regime de trabalho “in loco” para o teletrabalho pode ser um processo gradual e demorado, com fases de teste e adaptação. Se para algumas empresas a redução de custos com instalações e deslocações é bem-vinda, outras temem um possível decréscimo de produtividade. Estarão os profissionais e empresas preparados para este novo normal?

As empresas estão preparadas para o teletrabalho?

Portugal foi um dos primeiros países da Europa a enquadrar o regime de teletrabalho na legislação laboral, em 2003, muito antes da situação pandémica que vivemos atualmente.

Num estudo levado a cabo pela Eurofound “Working anytime, anywhere: The effects on the world of work”, de 2017, é possível observar que Portugal contava já com 11% dos profissionais em teletrabalho, sendo que apenas 2% o faziam de forma permanente.

Quando restringida a análise aos 2.8 milhões de trabalhadores portugueses por conta de outrem, apenas 779 profissionais (0,02%) estavam abrangidos por contratos que incluíam teletrabalho.

Que desafios surgem na adesão ao teletrabalho entre profissionais independentes e por conta de outrém?

Os desafios dos novos teletrabalhadores

Compreender os fatores que tornam o trabalho remoto desafiante é fundamental para a gestão de uma equipa e para assegurar o seu desenvolvimento contínuo. Caso contrário, os colaboradores com melhor desempenho podem ser os principais afetados pela transição, a nível de performance e motivação, especialmente se não existir treino e preparação prévia. Facilitar a transição implica analisar os principais desafios associados ao teletrabalho:

  • “A identificação e reação aos problemas é mais difícil” - Muitos colaboradores referem que os seus gestores remotos têm dificuldade em manter o nível de apoio, em formato digital, tanto por falta de formação, etiqueta digital ou simples ausência de um posto de trabalho comum, que facilita a identificação e reação aos problemas. A gestão e a criação de soluções para problemas fazem parte da lista das 10 competências mais procuradas numa empresa.
  • “Os tempos de resposta e comunicação são mais demorados”: Durante o tempo de isolamento, a comunicação interna tornou-se mais demorada. A procura de informação passou a levar mais tempo e as respostas de colegas, mesmo a questões simples, tem demorado mais do que o normal em trabalho presencial.
  • “Há menos empatia entre trabalhadores remotos” - Os estudos realizados com equipas em trabalho remoto mostram que a falta de conhecimento sobre as circunstâncias pessoais ou profissionais das pessoas à nossa volta conduz à falta de empatia. Isto traduz-se em situações de stress emocional e à perceção de menor profissionalismo nos colegas em teletrabalho.
  • “O trabalho remoto reduz o espírito de equipa” - Reduzir o isolamento causado pelo teletrabalho é um dos principais desafios das organizações. As conversas entre colegas no posto de trabalho, sala de refeições ou à volta da máquina de café não existem e, a longo prazo, podem afetar o sentimento de pertença à organização. Mitigar este efeito é uma das principais preocupações dos gestores neste regime de trabalho. Na verdade, saber trabalhar em equipa é uma das competências mais valorizadas pelas entidades empregadoras.
  • “As distrações em casa dificultam o teletrabalho” – O teletrabalho com filhos é mais desafiante, bem como para os casais em que os dois se encontram neste regime de trabalho, o que representa um desafio acrescido para organizações e indivíduos. A definição de espaços e horários próprios é umas das grandes preocupações no caso de uma adaptação forçada, e a recomendação é de tolerância na gestão das distrações naturais que surgem da mudança de ambiente, para evitar tensões adicionais.

A maior parte dos colaboradores portugueses em teletrabalho durante a pandemia indica o maior controlo do tempo como principal vantagem (77%), seguido da melhor gestão de horários e maior flexibilidade. A sensação de afastamento social dos colegas é o grande desafio apontado para 76%, com 64% a sentirem dificuldade em separar a vida profissional e familiar, reforçando os desafios já identificados.

As empresas estão preparadas para o teletrabalho?

Como potenciar o teletrabalho?

A disciplina é definida como a característica pessoal mais importante para o trabalho remoto. Para a promover, as organizações portuguesas podem considerar medidas como:

#1 Reuniões diárias, breves e estruturadas

Uma videochamada diária dentro da equipa, entre equipas ou individual, de forma regular, mostra preocupação com a existência de um momento em comum e mitiga a erosão do sentimento de pertença à organização.

#2 Canais de comunicação adaptados

Para além do email, as organizações que procurem potenciar o teletrabalho necessitam de adotar novas ferramentas ágeis de comunicação. A segurança da informação é chave.

#3 Novas regras de interação

A gestão do teletrabalho obriga a estabelecer momentos do dia e formatos de comunicação que garantam o direito à desconexão digital. Regras claras sobre que formato de comunicação é utilizado para cada momento facilitam a adaptação a esta nova forma de trabalho em equipa.

#4 Indicadores de desempenho revistos

Manter as equipas motivadas também significa ajustar a forma como se mede o desempenho e comunicá-la de forma eficiente.

#5 Formação das chefias e colaboradores

Para mitigar os desafios do teletrabalho, é necessário que chefias e trabalhadores aprendam como oferecer apoio, manter a motivação de equipas remotas e como lidar com momentos críticos à distância. Promover o desenvolvimento de competências de gestão emocional pode ser bastante útil para chefias gerirem equipas à distância e darem uma melhor resposta a situações de crise.

O teletrabalho veio para ficar?

Vivemos tempos de grande mudança e de profunda adaptação. Neste contexto, o teletrabalho já começou a transformar a sociedade e o mundo profissional. Sem garantias de que veio para ficar ou de que forma irá evoluir, cabe às organizações portuguesas olharem para os desafios que são impostos diariamente e continuarem a adaptar os seus processos e rotinas para manter as suas equipas motivadas.

Partilha este artigo_