Há diferenças nas qualificações e género dos trabalhadores das ocupações que mais perderam e ganharam emprego entre 2011 e 2019

Entre 2011 e 2013, houve uma perda líquida de cerca de 311 mil empregos em Portugal. Após 2013, o número de novos empregos voltou a aumentar sistematicamente, uma retoma que permitiu, chegar a 2019 com uma população empregada 4% superior à de 2011. 

No entanto, estas dinâmicas não foram uniformes em todas as ocupações. Por um lado, a recuperação até 2019 não foi suficiente para algumas ocupações que testemunharam uma queda no emprego entre 2011 e 2019. Por outro lado, houve ocupações que se destacaram pelo significativo aumento de emprego.

Quais são estas ocupações e que diferenças há entre elas?

AS OCUPAÇÕES QUE PERDERAM MAIS EMPREGO SÃO OCUPADAS NA SUA MAIORIA POR TRABALHADORES POUCO QUALIFICADOS...

A variação do número de trabalhadores entre 2011 e 2019 não foi uniforme em todas as ocupações. As 10 profissões que mais emprego perderam assistiram, no seu conjunto, a uma redução superior a meio milhão de postos de trabalho. São sobretudo as ocupações que empregavam, em 2011, grandes quotas de trabalhadores menos qualificados.

Estas ocupações viram a educação média dos seus trabalhadores crescer até 2019 mas, apesar da recomposição em termos de qualificações, continuavam a empregar sobretudo trabalhadores pouco escolarizados. Em 7 dessas profissões, a quota de trabalhadores com o ensino básico como nível de escolaridade máximo situava-se, em 2019, entre 67% a 94%.

Incluem-se nesse grupo profissões relacionadas com o setor primário – agricultores, criadores de animais, pescadores e caçadores – mas também trabalhadores da construção, dos resíduos, da limpeza, da transformação de alimentos, madeira ou vestuário e trabalhadores não qualificados da indústria extrativa e transformadora, construção e transportes. O nível de ensino secundário é o dominante em duas das restantes (‘Outro pessoal de apoio de tipo administrativo’ e ‘Outro pessoal das Forças Armadas’), embora se tratem de profissões com um volume de emprego total baixo.

Profissões com maior perda de volume de emprego entre 2011 e 2019

FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN1

A MAIORIA DAS PROFISSÕES QUE MAIS CRIARAM EMPREGO TÊM SOBRETUDO TRABALHADORES QUALIFICADOS, MAS HÁ MAIOR VARIABILIDADE 

Já o grupo de profissões em que a criação de novos postos de trabalho mais superou o número dos que desapareceram conta com uma criação líquida de emprego superior a meio milhão de empregos entre 2011 e 2019. Em muitas das profissões, o aumento do volume de emprego foi sempre crescente, mesmo no período da recessão económica.

O número de ‘Especialistas em tecnologias de informação e comunicação (TIC)’ aumentou 278%, um crescimento notável que permitiu que a quota de emprego associada a esta profissão (muito baixa em 2011 com cerca de 0,4% do emprego total) tenha aumentado 1,2 pontos percentuais até 2019. Cerca de 70% destes trabalhadores tinham, em 2011, um diploma de ensino superior, quota que passou para 80% em 2019. 

Esta predominância de trabalhadores com o ensino superior é comum a outras profissões que viram o volume de emprego aumentar de forma significativa neste período. É o caso dos ‘Especialistas das ciências físicas, matemáticas, engenharias e técnicas afins’, dos ‘Profissionais de Saúde’ e dos ‘Professores’, que já em 2011 tinham uma percentagem de diplomados de ensino superior elevada, cerca de 93%, 97% e 96%, respetivamente. Números que se mantiveram pouco alterados até 2019. Nestas ocupações, o emprego cresceu de forma continuada, durante e após a recessão, sendo que todas elas aumentaram o seu peso no emprego total até 2019. 

Por outro lado, os ‘Trabalhadores dos cuidados pessoais e similares’, os ‘Trabalhadores dos serviços pessoais’ e os ‘Vendedores’, têm, em geral, níveis de escolaridade relativamente baixos. Em 2011, o ensino básico era a escolaridade máxima da maioria dos trabalhadores que exerciam estas profissões (entre 66% a 72%). Em 2019 manteve-se como o nível de escolaridade mais frequente, mas agora com uma quota inferior à de 2011 em 20 pontos percentuais em qualquer uma destas três profissões.

Profissões com maior aumento de volume de emprego entre 2011 e 2019

FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN1

E HÁ DIFERENÇAS DE GÉNERO?

A queda do emprego nas profissões com maior destruição de emprego entre 2011 e 2019  foi repartida entre ambos os sexos.

No entanto, as mulheres estão em maioria no conjunto das profissões com maior aumento do volume de emprego. E a maior fatia de crescimento de empregos deveu-se às mulheres (66%). No entanto, há algumas exceções.  


Em geral, as profissões com maior queda de emprego eram, em 2011, maioritariamente ocupadas por homens
. Não era o caso dos ‘Trabalhadores da transformação de alimentos, madeira, do vestuário e outras indústrias e artesanato’ e nos ‘Trabalhadores de resíduos e de outros serviços elementares’, nas quais as mulheres estavam em maioria. Nestas profissões, a queda de emprego foi mais acentuada no sexo feminino e, em 2019, os homens passaram a estar em maioria. A grande exceção no grupo de profissões em que as mulheres estão em maioria é ‘Trabalhadores de limpeza’, que perdeu cerca de 33 mil empregos. Apesar da maior queda de emprego se ter verificado entre os homens (-34% versus -15% para o sexo feminino), eles continuavam a representar apenas cerca de 6% do total dos ‘Trabalhadores de limpeza’.  

As ocupações com maior criação de emprego são maioritariamente ocupadas por mulheres, com a grande exceção dos ‘Especialistas em TIC’ 

Na maioria das ocupações que mais criaram emprego entre 2011 e 2019, já havia mais mulheres que homens em 2011. E o peso feminino foi reforçado até 2019. Era o caso dos 'Trabalhadores dos serviços pessoais', 'Empregados de escritório e secretários', 'Professores', 'Especialistas em finanças, contabilidade, organização administrativa, relações públicas e comerciais', 'Vendedores', 'Profissionais de saúde' e, principalmente, dos ‘Trabalhadores dos cuidados pessoais’, a profissão que mais cresceu em termos absolutos (mais de 83 mil empregos) e que em 2019 contava com 95% de mulheres. 

Noutra profissão com acentuado aumento de emprego entre 2011 e 2019, ‘Especialistas das ciências físicas, matemáticas, engenharias e técnicas afins’, os homens estavam e continuam a estar em maioria, embora as mulheres tenham aumentado o seu peso. 

A grande exceção verifica-se na categoria que mais cresceu em termos relativos: ‘Especialistas em tecnologias de informação e comunicação (TIC)'. O aumento no seu volume de emprego entre 2011 e 2019 foi semelhante para ambos os sexos (278% para homens e 275% para mulheres), o que fez com que o peso das mulheres não se alterasse, continuando a representar 18% destes profissionais. 

1 PROFISSÕES A 2 DÍGITOS SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO PORTUGUESA DAS PROFISSÕES. PERCENTAGENS ARREDONDADAS ÀS UNIDADES. VER AQUI ANEXO METODOLÓGICO PARA MAIS INFORMAÇÃO.

Este insight faz parte do relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal” que pode consultado na íntegra aqui. 
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