Depressão

Depressão 

O que é a depressão?

A depressão é uma perturbação psiquiátrica que afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo e que se caracteriza por um estado de perda de energia e de interesse, sentimentos de tristeza, incapacidade de sentir prazer, sentimentos de culpa e baixa autoestima, alterações do sono e do apetite, diminuição da concentração e pensamentos negativos. No entanto, o humor depressivo não deve ser confundido com a tristeza, uma emoção negativa vivenciada a maior parte das vezes como resposta a experiências negativas.

Estas alterações fazem parte da experiência na vida de cada um de nós, sendo bastante comuns em determinados momentos da nossa vida. No entanto, quando se intensificam e se prolongam no tempo, afetam a nossa capacidade de funcionar e acarretam risco devida. O suicídio é a complicação mais grave que pode suceder no contexto de uma depressão e estima-se que em todo o mundo quase 1 milhão de suicídios.

Qual o impacto da depressão?

A depressão origina um conjunto de mudanças que se refletem na vida pessoal, familiar e profissional, com consequências significativas no estado de equilíbrio psicológico com implicações diretas e indiretas sobre os familiares e as pessoas mais próximas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que dentro de 10 anos a depressão passe a ser a segunda causa de incapacidade em todo o mundo.

Quais as causas da depressão?

As causas para esta doença são múltiplas e complexas e incluem fatores individuais como as características de personalidade, fatores genéticos com associação familiar e fatores ambientais como o stress e eventos negativos de vida que afetam o nosso funcionamento psíquico. É ainda essencial compreender que independentemente das causas envolvidas, a depressão pode causar alterações significativas na estrutura e função do cérebro que passam por distúrbios bioquímicos na neurotransmissão, alterações eletrofisiológicas e alterações morfológicas e de neuroplasticidade que necessita de um apoio médico.

 Existem tratamentos para a depressão?

Felizmente, nos tempos que correm já existem tratamentos eficazes para aliviar este sofrimento que é causado pela depressão, que diminuem a possibilidade de este se agravar. Desde logo a psicoterapia, que com diferentes técnicas de intervenção terapêutica, permite um adequado suporte psíquico, compreensão dos sentimentos e pensamentos bem como o desenvolvimento de estratégias funcionais de adaptação.

Além disso, existem ainda disponíveis antidepressivos que atuam na neurotransmissão e que revertem as alterações cerebrais e que permite a melhora destes sintomas causados pela depressão. Antes de iniciar qualquer tipo de tratamento é essencial a avaliação por um profissional de saúde.

 Como podemos reconhecer uma depressão?

Para poder intervir de forma atempada e conseguirmos também minimizar o sofrimento e riscos associados à depressão, é fundamental saber reconhecer os principais sinais e sintomas desta doença. Embora a apresentação clínica possa ser muito variável, com diferentes diagnósticos possíveis, há domínios psíquicos que são tipicamente afetados.

No domínio psicopatológico central do humor, o humor depressivo com sentimentos persistentes de tristeza e a falta de prazer generalizada é definida como a diminuição na capacidade de experienciar o prazer e no interesse por atividades com carácter de prazer temporário, logo estabelecem o fundo geral para esta patologia.

No domínio da cognição as alterações podem ser de natureza quantitativa. Esta causa uma diminuição na velocidade do pensamento e no processamento de informação. Pode ainda ser de natureza qualitativa onde esta é principalmente caracterizada pela baixa autoestima, pensamentos de culpa e de confusão, indecisão e ideação suicida que confere mortalidade significativa a esta perturbação psiquiátrica.

No domínio da ansiedade, os sintomas psíquicos e somáticos de ansiedade são muito frequentes e estão associados a pior prognóstico. De facto, esta sobreposição entre as alterações emocionais expressas na depressão e nas perturbações da ansiedade e o facto de ambas as patologias responderem ao tratamento com antidepressivos sugere uma base psicopatológica comum que fica bem expressa na sua alta co-morbilidade.

A expressão clínica da depressão abrange outros domínios de carácter essencialmente físico, nomeadamente os ritmos circadianos e padrões de sono, padrões de comportamento alimentar, líbido e comportamento sexual, fadiga, agitação psicomotora e sensibilidade à dor. Curiosamente, a expressão das alterações nestes domínios é altamente variável e frequentemente oposta entre indivíduos.

Por exemplo, as alterações dos padrões de sono podem cursar com insónia ou hipersónia e os padrões de comportamento alimentar podem variar entre a anorexia e a hiperfagia com alteração do controlo do impulso alimentar.

A diminuição da líbido que é uma das características dos estados depressivos é vista como um grande desafio no tratamento da depressão uma vez que muitos dos fármacos antidepressivos disponíveis atualmente podem ter um impacto bastante negativo nesta dimensão.

Finalmente, as queixas dolorosas que são frequentes e com impacto funcional significativo, mas habitualmente menorizadas na caracterização clínica e tratamento dos estados depressivos.

Quando estes sinais e sintomas perduram no tempo, com sofrimento persistente e impacto significativo na vida pessoal, familiar e profissional, é essencial a procura de ajuda de um profissional de saúde nomeadamente o médico de família, psicólogo ou psiquiatra para o estabelecimento de um diagnóstico e de um plano de intervenção.

Como funcionam os tratamentos médicos da depressão?

Quando se estabelece um diagnóstico de depressão é fundamental estabelecer um plano terapêutico que tenha em conta as necessidades da pessoa em causa. Este plano deve ser abrangente e ter em consideração as necessidades da pessoa a um nível psíquico, físico e ambiental, garantido o necessário acompanhamento médico, psicológico e social.

Numa perspetiva de intervenção psicológica, a psicoterapia pode ser utilizada recorrendo a técnicas cientificamente validadas, tal como a psicoterapia cognitivo-comportamental ou psicodinâmica, realizadas por técnicos de saúde mental com formação específica em psicoterapia e com experiência clínica. Tipicamente envolve a realização de sessões regulares em que se procura a compreensão dos sentimentos e pensamentos experienciados num estado depressivo bem como o desenvolvimento de estratégias funcionais de adaptação.

Numa perspetiva de intervenção médica, o tratamento com medicamentos antidepressivos é uma ferramenta essencial na recuperação clínica e redução do risco de suicídio. Os medicamentos atualmente disponíveis atuam no sistema nervoso central, modulando a comunicação entre neurónios específicos por ação de neurotransmissores como a serotonina e noradrenalina. São medicamentos altamente seletivos, seguros e com poucos efeitos secundários. Tipicamente, o seu efeito terapêutico só se verifica após algumas semanas de tratamento e devem ser mantidos durante pelo menos 6 meses após a recuperação dos sintomas. Em situações clínicas em que os sintomas de ansiedade estão presentes, podem ainda ser utilizados medicamentos ansiolíticos no início do tratamento.

Quando tratada de forma adequada, a depressão tem um resultado positivo, sendo possível a remissão completa dos sintomas e recuperação funcional a longo prazo. No entanto, pode não haver resposta a estes tratamentos e neste caso, há ainda a possibilidade de recorrer a técnicas de neuroestimulação como a estimulação magnética transcraniana e eletroconvulsivoterapia, com eficácia cientificamente comprovada em situações de resistência ao tratamento.

Como combater o estigma e mitos associados à depressão?

Apesar do reconhecimento global da importância da saúde mental, existe ainda um estigma associado à depressão que tem que ser combatido através da consciencialização da sua natureza patológica e necessidade de tratamento adequado. Assim torna-se essencial desfazer alguns mitos que dificultam a sua compreensão. Desde logo, a depressão não se desenvolve apenas nas pessoas mais frágeis, podendo afetar qualquer pessoa, independentemente do seu valor, mérito ou capacidade. Mais, o tratamento com antidepressivos não causa qualquer tipo de dependência ou incapacidade, podendo ser suspenso após o tempo necessário de acordo com o plano terapêutico. Finalmente, a depressão não é uma doença crónica e incurável, sendo habitualmente irregular com remissão dos sintomas e recuperação funcional após o episódio depressivo.

 

João Bessa

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