A pandemia aumentou as desigualdades na educação e resultou em perdas de aprendizagem

As regras de contenção como resposta à COVID-19 que foram implementadas ao longo dos nos últimos dois anos de pandemia afetaram de forma significativa os sistemas educativos em todo o mundo. Portugal também não foi exceção.

Neste contexto, foi implementado um conjunto de medidas, nomeadamente o ensino à distância, como forma de mitigar o encerramento das escolas e facilitar a continuidade da aprendizagem, nomeadamente para os alunos mais jovens.  

MAS SE SERÁ QUE TAIS MEDIDAS FORAM SUFICIENTES?

As medidas tomadas foram insuficientes para colmatar o encerramento das escolas

O impacto da pandemia na educação fez-se por várias vias, mais ou menos diretas. O primeiro efeito direto na pandemia foi o encerramento das escolas durante os confinamentos. Apesar do número de dias de encerramento das escolas em Portugal ter sido inferior ao da média da OCDE, Portugal foi um dos poucos países em que a duração do encerramento do ensino primário não foi inferior ao do ensino secundário.

As comparações internacionais mostram que os países com pior performance no PISA tenderam a optar por encerramentos mais prolongados.

O encerramento das escolas implicou uma adaptação brusca do sistema educativo a uma nova realidade. Das várias possibilidades de adaptação, o recurso ao ensino à distância e o ajustamento dos calendários escolares e dos exames acabaram por ser as opções mais comuns na maioria dos países, Portugal incluído. No entanto, estas medidas foram insuficientes para colmatar a suspensão do ensino presencial. Em primeiro lugar, os ajustes no calendário, com redução de alguns tempos de férias, não compensaram o número de dias de encerramento. E, em segundo lugar, a opção pelo ensino à distância encontrou um sistema que não estava preparado para dar esse salto, com vários indicadores a mostrar sinais de situações de “pobreza digital”.

Dados de um questionário aos diretores escolares realizado pelo Conselho Nacional de Educação mostram que “metade das escolas portuguesas teve menos de 15% dos seus alunos sem dispositivos digitais e um quinto teve mais de 30% dos seus alunos sem acesso a esses dispositivos” durante o primeiro confinamento.

O ENSINO À DISTÂNCIA FOI UM FATOR INDUTOR DE DESIGUALDADES

O recurso ao ensino remoto de emergência e a imposição de longos períodos de confinamento alteraram as condições e os espaços de aprendizagem, gerando diferenças entre alunos, famílias e escolas, não só em termos do acesso aos meios digitais, mas também em termos das competências necessárias para o seu uso útil e efetivo.

Uma das diferenças diz respeito à natureza das escolas - públicas e privadas - que está naturalmente relacionada com o estatuto socioeconómico das famílias. Antes da COVID-19, em 2019, o número médio de alunos por computador no ensino público era de 4,7, que comparava com 4,0 no ensino privado. No que respeita ao número médio de alunos por computador com ligação à Internet, no ensino público era de 5 e no privado de 4,3.

Uma outra evidência das desigualdades é o facto de, nas escolas públicas, o ensino à distância por videoconferência ter aumentado de 22%, em março de 2020, para 89%, em maio de 2020, enquanto que nas escolas privadas aumentou de 63%, em março, para 98%, durante este período.

Assim, as escolas menos bem equipadas com infraestruturas tecnológicas e digitais e com menor experiência na dinamização de projetos de literacia digital, terão sofrido um maior impacto na situação de ensino remoto de emergência, condicionando o ensino e a aprendizagem, gerando ou aumentando desigualdades.

Isso também fica evidente na proporção de professores que previu serem necessários dois ou mais períodos escolares para compensar as perdas de aprendizagem: 48% dos professores de escolas públicas e 36% dos professores de escolas privadas.

Para além do confinamento das escolas ter exacerbado as desigualdades socioeconómicas, também conduziu a perdas mais significativas nos alunos do ensino profissional e do ensino artístico especializado, cujo ensino incorpora uma forte componente performativa, pela impossibilidade de aprender em contexto real de trabalho.

AS PERDAS DE APRENDIZAGENS EM IDADE ESCOLAR SÃO CERTAS

Estudos realizados pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) que permitem comparar os resultados das provas de aferição de alunos no mesmo ano de escolaridade, mas em diferentes anos letivos, revelam que os resultados das provas de aferição no período de pandemia (2021), ficaram aquém dos de anos letivos anteriores (2018 ou 2019). A percentagem de alunos do 2º, 5º e 8º anos que “Não conseguiram ou não responderam” a diferentes domínios avaliados em cada disciplina aumentou transversalmente, quer em termos de disciplinas quer de ano escolar.

As maiores quedas verificaram-se:

  • nos alunos do 2º ano na disciplina de matemática, com um aumento de 23 pontos percentuais;
  • nos alunos do 5º ano na disciplina de português, com um aumento de 14 pontos percentuais; e
  • nos alunos do 8º ano na disciplina de matemática, com um aumento de 13 pontos percentuais.

Variação da percentagem de alunos que não conseguiram ou não responderam a perguntas das provas de aferição em 2021 face aos anos letivos anteriores (2018 ou 2019)

FONTE: OBSERVADOR E IAVE

Este insight faz parte do relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação 2022: Educação, Emprego e Competências em Portugal

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