A educação como resposta aos desafios sociais, laborais e tecnológicos

Um dos objetivos centrais da educação é que os alunos adquiram uma base sólida de competências que sirva de suporte ao seu percurso formativo e carreira profissional. Para potenciar carreiras bem sucedidas, além de competências básicas, o sistema de educação deve desenvolver competências relevantes para o mercado de trabalho.

Alguns Insights do Brighter Future demonstram que várias aptidões e áreas de conhecimento têm vindo a ganhar e a perder relevância nos últimos anos, o que comprova que estas competências não são estáticas.Por isso, o sistema de educação deve ter dinamismo suficiente para dar resposta às mudanças profundas que ocorrem nos domínios sociais, laborais e tecnológicos.

No entanto,  segundo a OCDE, a maioria dos alunos continua a ser ensinada com práticas pedagógicas datadas e em escolas com modelos de organização que remontam ao século XIX. Apesar de alguns avanços, o mundo da educação parece ter dificuldade em distanciar-se das influências das primeiras revoluções industriais, que requeriam produção em massa a execução de tarefas rotineiras, repetitivas e pouco complexas.

Um mundo de trabalho muito diferente requer competências diferentes

As exigências do mercado de trabalho são hoje muito diferentes, resultado de alterações profundas durante as últimas décadas tais como a globalização, constantes avanços tecnológicos e novas formas de organização do trabalho.

Estas tendências têm ditado uma alteração profunda no tipo de competências exigidas e é provável que assim continue no futuro. Com o progresso tecnológico, as tarefas mais rotineiras foram ou serão automatizadas. É urgente refletir sobre o que deverá ser alterado no mundo da educação para melhor preparar os alunos de todas as idades para o futuro.

As mudanças no mercado de trabalho arriscam deixar uma parte significativa da população ativa com competências desadequadas. Os atuais trabalhadores já saíram do sistema educativo há vários anos e grande parte deles com qualificaçãoes muito baixas: em Portugal, em 2019, cerca de 48% dos adultos entre os entre 25 e 64 anos não tinham concluído o ensino secundário.

Assim, é também essencial preparar os trabalhadores de hoje para o futuro, o que passará inevitavelmente pela reconversão de competências para se manterem empregáveis e portanto por um sistema de formação ao longo da vida eficaz.

Preparar todos para o futuro

Para preparar os alunos e trabalhadores para um futuro promissor, os sistemas de educação e formação devem considerar vários aspetos:

  • Os conteúdos que fornecem e as competências que desenvolvem devem estar alinhadas com as necessidades do mercado de trabalho, principalmente nos estágios mais avançados;
  • Os métodos de ensino tradicionais devem ser complementados com outros mais inovadores que promovam o envolvimento e autonomia do aluno e que complementem as competências transversais com skills técnicas;
  • O progresso tecnológico deve ser usado em benefício da aprendizagem, quer no desenvolvimento de métodos de ensino mais inovadores como na eliminação de barreiras à participação na aprendizagem.

Conteúdos flexíveis alinhados com o mercado de trabalho

Em termos de conteúdo, é essencial que os sistemas de educação e formação desenvolvam as competências mais relevantes para o mercado de trabalho.

Vários estudos apontam como particularmente relevantes as competências que permitem trabalhar com a tecnologia e com os outros e lidar com situações de incerteza. Alguns exemplos são: pensamento crítico, resolução de problemas, negociação, competências digitais, inteligência emocional e colaboração.

No entanto, as mudanças ocorridas nas últimas décadas sugerem que é necessário ir além destas necessidades emergentes. Em primeiro lugar, devem ser criados mecanismos de monitorização das necessidades do mercado de trabalho de forma a garantir que os sistemas continuam orientados para o futuro.

Em segundo lugar, os próprios sistemas de educação e formação devem ser ágeis de forma a implementar as alterações necessárias quer ao nível do currículo como ao nível dos modelos de aprendizagem.

Em terceiro lugar, há necessidade de reforçar opções formativas mais curtas e orientadas aos trabalhadores que querem ou precisam de reconverter as suas competências para mudar ou progredir na carreira.

Métodos de ensino que priorizam o papel do aluno

O mercado de trabalho requer cada vez mais que os trabalhadores detenham competências técnicas e transversais, pelo que os sistemas de educação e formação devem ter em conta essa combinação.

As competências transversais não são necessariamente adquiridas por conteúdos mas através de modelos de aprendizagem inovadores que promovam o seu desenvolvimento. Por exemplo, competências como resolução de problemas complexos e pensamento crítico, entre outras, são estimuladas se o aluno tiver um papel mais ativo no processo de aprendizagem.

Assim, os métodos tradicionais de ensino, como a instrução direta e a memorização, devem ser complementados com outros mais inovadores.

No universo dos novos métodos de aprendizagem destacam-se os que são baseados na experiência e na reflexão ou experiential learning. Um exemplo é o problem-based learning através do qual a aprendizagem é despoletada por um problema concreto, sugerido pelo professor ou pelos alunos, e cuja resolução passa por uma abordagem coletiva, por tentativa e erro e por reconhecer que nem todos os problemas têm uma resposta única e fechada.

Outro exemplo, é o project-based learning em que os alunos desenvolvem um projeto, normalmente interdisciplinar e com ligações ao mundo real e à comunidade. Um elemento importante destas metodologias é o facto de a aprendizagem acontecer de forma colaborativa, promovendo também o trabalho em equipa e competências interpessoais que vão para além das disciplinas tradicionais.

Potenciar a aprendizagem através da tecnologia

Uma tendência das últimas décadas e que foi acelerada de forma inédita durante a recente pandemia é o uso de tecnologias digitais na aprendizagem.

As tecnologias digitais facilitam o desenvolvimento de métodos de aprendizagem personalizados e flexíveis ao ritmo, necessidades e interesses dos alunos. Além do impacto positivo que este tipo de métodos têm nos alunos em idade escolar, esta flexibilidade pode ser particularmente importante para promover a aprendizagem de adultos ao longo da vida.

De facto, os trabalhadores já detêm um conjunto de competências adquiridas e é importante ter opções formativas que não sejam lineares nem padronizadas, para garantir que o talento exclusivo de cada aluno maximizado.

Outra vantagem das tecnologias é que potencia novas oportunidades de aprendizagem. Por um lado, permitem a extensão da aprendizagem do espaço físico ao espaço digital através de acesso a conteúdos, a comunidades virtuais ou a recursos abertos.

Por outro lado, há um aumento de ofertas educativas que combinam a aprendizagem física e online – blended learning – ou totalmente efetuadas online. Estas podem ser muito relevantes para adultos que já detenham competências digitais. De facto, os adultos que gostariam de participar em formação mas não o fazem, apontam o horário das ações de formação como a principal barreira à sua participação.

Um exemplo de cursos online com grande expressão desde que foram criados em 2008 são os MOOCs (Massive Open Online Courses). Estes são cursos abertos online, muitos deles oferecidos por universidades internacionais de grande reputação, que tinham atraído mais de 25 milhões de pessoas até 2015. Segundo a OCDE, integrar MOOCs em percursos de desenvolvimento profissional é o uso mais promissor destes instrumentos educacionais no futuro.

O uso de tecnologia na aprendizagem pode mitigar as barreiras à participação e democratizar o acesso ao ensino, mas para isso é preciso garantir o acesso a aparelhos digitais e proficiência nas competências digitais.

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