Os empregos com tarefas predominantemente manuais e com maior risco de automação estão a perder terreno

Entre 2011 e 2013, houve uma perda líquida de cerca de 311 mil empregos em Portugal. Após 2013, o número de novos empregos voltou a aumentar sistematicamente, uma retoma que permitiu, chegar a 2019 com uma população empregada 4% superior à de 2011. 

No entanto, o emprego destruído não envolve necessariamente o mesmo tipo de tarefas e de competências, o que resulta numa recomposição do emprego também ao nível do tipo de emprego. Neste insight, abordam-se dois ângulos de análise do tipo de emprego: o tipo de tarefas predominante (manuais versus abstrato) e o risco de automação (baixo ou elevado).

AUMENTOU O PESO DO EMPREGO ABSTRATO...

A evolução do emprego desde 2011 revela que as ocupações onde predominam as tarefas manuais – que requerem esforço físico, força ou interação interpessoal direta de natureza repetitiva – têm perdido terreno para as ocupações com tarefas mais abstratas – relacionadas com criatividade, organização e gestão, capacidade cognitiva e raciocínio abstrato. Os empregos do tipo ‘manual’ caíram cerca de 1% entre 2011 e 2019 (o número não reflete uma forte queda no período da crise financeira, pois foi praticamente recuperado durante a retoma). O emprego do tipo ‘abstrato’ manteve-se praticamente inalterado entre 2011 e 2013, e registou um forte aumento entre 2013 e 2019 (21%). 

Os empregos do tipo abstrato reforçaram o seu peso em 6 pontos entre 2011 e 2019. Essa evolução leva a que, nesse último ano, cerca de metade do emprego seja de cada um dos dois tipos: 47% abstrato e 49% manual. Comparativamente à generalidade da população empregada, uma maior proporção dos trabalhadores mais jovens (25-34 anos) estão em empregos do tipo ‘abstrato’ em qualquer um dos anos analisados. 

População empregada por tipo principal de tarefas das ocupações (manuais vs. abstratas) e faixa etária em 2011, 2013 e 2019 

FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN1

... E DO EMPREGO COM MENOR RISCO DE AUTOMAÇÃO

Os empregos com menor risco de automação têm vindo, lentamente, a substituir aqueles em que, num futuro próximo, os trabalhadores podem ser substituídos por robots. Os trabalhadores em profissões com baixo risco de automação representavam, em 2011, 37% do total da população empregada, quota que aumentou 9 pontos percentuais até 2019. 

No período da crise financeira, até 2013, é de notar que o emprego em ocupações com alto risco de automação caiu 12%, enquanto que o emprego nas ocupações de baixo risco aumentou 3%. No período de retoma, entre 2013 e 2019, o aumento do emprego foi muito mais pronunciado para as ocupações com baixo risco de automação: 25%, contra 2% nas ocupações de alto risco.

Já a criação de emprego dos jovens com idades dos 25 aos 34 anos parece ocorrer cada vez mais em ocupações em que o risco de automação é baixo. Esta tendência permitiu reduzir de 55% para 50% a quota de trabalhadores jovens com ocupações com baixa probabilidade de automação. A proporção de trabalhadores mais jovens em ocupações de risco mais elevado de automação é sempre mais baixa do que a generalidade da população empregada, para qualquer um dos anos em análise. 

População empregada por risco de automação das ocupações e faixa etária em 2011, 2013 e 2019 

FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN1

No entanto, o próprio risco de automação é dinâmico e depende dos progressos tecnológicos que permitirão, por exemplo, a inteligência artificial substituir tarefas mais complexas e cognitivas. Assim, tarefas que com a tecnologia de hoje são consideradas como não automatizáveis podem passar a sê-lo, colocando pressão nas competências e qualificações necessárias para o futuro. 

Em suma, verifica-se que, ao longo da última década, o emprego em Portugal está progressivamente a crescer em ocupações com mais baixo risco de automação e com tarefas predominantemente mais abstratas. As tendências verificadas para a generalidade da população empregada são mais acentuadas na população mais jovem.

1FAIXAS ETÁRIAS – 25-34 ANOS E TOTAL (15-74 ANOS). PERCENTAGENS ARREDONDADAS ÀS UNIDADES PELO QUE O TOTAL PODERÁ SER DIFERENTE DE 100%. VER AQUI ANEXO METODOLÓGICO PARA INFORMAÇÃO SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DAS OCUPAÇÕES.

Este insight faz parte do relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal” que pode consultado na íntegra aqui.
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