Em 2020, todas as regiões voltaram a ter um salário médio real acima do de 2010

Na última década, os salários dos trabalhadores portugueses foram afetados de forma significativa quer por fatores relacionados com o ciclo económico – tais como a crise financeira de 2010 a 2014 como a mais recente crise pandémica – como também por fatores mais intrínsecos ao mercado laboral como, por exemplo, o aparecimento e crescimento de profissões com uma forte componente tecnológica.

Neste insight analisa-se a evolução do salário médio em termos agregados, por setor de atividade e por região de Portugal. Para isso, recorre-se aos dados dos Quadros de Pessoal que resulta de um inquérito anual obrigatório a todas as empresas do setor privado e do setor empresarial do estado com pelo um trabalhador por conta de outrem e que está a cargo do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (GEP/MTSSS). Os dados mais recentes, que reportam a situação das empresas em 2020, são comparados aos de 2019, antes da crise pandémica, e aos de 2010.

COMO TEM EVOLUÍDO O SALÁRIO MÉDIO DOS TRABALHADORES EM PORTUGAL?

Entre 2010 e 2019, o salário médio real dos trabalhadores cresceu apenas cerca de 0,6%, uma evolução que esconde duas tendências muito distintas: a queda de 5,4% entre 2010 e 2015 e a recuperação de 6,4% entre 2015 e 2019.

Em 2020, ano marcado pelo início da crise pandémica, o salário médio fixou-se em cerca de 1200€, mantendo a tendência de crescimento, com um aumento de 4,6% entre 2019 e 2020. De facto, esta foi a maior taxa de crescimento anual dos salários, sendo inclusivamente superior a variação registada entre 2018 e 2019 (3,1%). A razão do aumento do salário médio pode ser no entanto muito diferente nos dois períodos, evidente pela diferente evolução do número de trabalhadores.

A acentuada subida do salário médio de 2019 para 2020 pode não resultar de um aumento efetivo do salário dos trabalhadores, mas sim de um efeito estatístico resultante de uma recomposição do emprego. Este efeito é comum durante períodos recessivos em que os postos de trabalho eliminados são os mais frágeis, tipicamente com vínculos laborais precários, menos qualificações, experiência profissional e remunerações mais baixas, o que leva a um aumento do salário médio.

Evolução do salário médio real e das pessoas ao serviço entre 2010 e 2020

FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1

OS SALÁRIOS AUMENTARAM MAIS NOS SETORES QUE PERDERAM MAIS TRABALHADORES

A variação do número de trabalhadores e do salário nos diferentes setores de atividade sugere que a recomposição do emprego está, pelo menos em parte, associada à variação do salário. Em média, os setores com maior perda de emprego entre 2019 e 2020 tendem a ser os que tiveram maior aumento salarial.

Os casos mais evidentes são os seguintes setores:

  • Atividades de aluguer, de emprego, agências e operadores turísticos’, com um aumento do salário médio de 6,7% e uma queda no número de trabalhadores de 12,4%
  • Alojamento e restauração’, com um aumento do salário médio de 7,9% e uma queda no número de trabalhadores de 13,6%
  • Atividades artísticas, de espectáculos, desportivas e recreativas’, com um aumento do salário médio de 12,4% e uma queda no emprego de 5,4%.

Taxa de variação dos trabalhadores e dos salários médios entre 2019 e 2020 por setor de atividade

FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1

No entanto, há setores que contrariam esta tendência e registaram aumentos simultâneos nos salários médios e no número de trabalhadores. Esta conjugação pode indicar que há uma relativa escassez de trabalhadores nestes setores de atividade:

  • Serviços de informação e atividades informáticas’, com um aumento do salário médio de 3,7% e do número de trabalhadores em 12,3%
  • Fabrico de equipamentos informáticos, elétricos, eletrónicos e óticos’, com um aumento do salário médio de 7,7% e do número de trabalhadores de 3,4%
  • Atividades imobiliárias’, com um aumento do salário médio de 3,6% e do número de trabalhadores de 3,3%
  • Atividades de segurança privada e de apoio a empresas’, com um aumento do salário médio de 6,1% e do número de trabalhadores de 3,1%.

EM 2020, TODAS AS REGIÕES VOLTARAM A TER UM SALÁRIO MÉDIO REAL ACIMA DO DE 2010

O aumento do salário médio real entre 2019 e 2020 verificou-se em todas as regiões de Portugal, mas de forma mais acentuada nas ilhas, com taxas de crescimento de 13,8% nos Açores e de 5,9% na Madeira. O Algarve, a Área Metropolitana de Lisboa e a região Norte registaram um crescimento salarial em 2020 face ao ano anterior superior a 4%. Embora mais contido, o aumento do salário médio no Alentejo e na região Centro foi de 3,8% e 3,4%, respetivamente.

Este aumento fez com que, no ano de 2020, o salário médio real em 2020 tenha sido superior ao de 2010 em todas as regiões de Portugal. Em 2019, isso ainda não era o caso na maioria das regiões – Alentejo, Madeira, Algarve e Área Metropolitana de Lisboa. Destacou-se a variação do salário médio real da região dos Açores, Norte e Centro com um crescimento de 23,8%, 9,4% e 6,7% entre 2010 e 2020, respetivamente.

Em 2020, a Área Metropolitana de Lisboa manteve-se como a região com o salário médio mais elevado (1440€), com as ilhas – Açores e Madeira – a surgirem nas posições seguintes. Por oposição, o Algarve e Alentejo permaneceram como as regiões com os salários médios mais baixos do território português.

Variação do salário médio real por região entre 2010 e 2020

FONTE: QUADROS DE PESSOAL (GEP/MTSSS), FJN/BRIGHTER FUTURE.1

1SÃO CONSIDERADOS OS TRABALHADORES POR CONTA DE OUTREM EM EMPRESAS DO SETOR PRIVADO E DO SETOR EMPRESARIAL DO ESTADO. SALÁRIO BRUTO MENSAL MÉDIO A PREÇOS CONSTANTES (BASE 2020).

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