O que sabemos sobre a variação do número de diplomados e a empregabilidade por área de formação?

As tendências verificadas nos principais indicadores do ensino superior, nomeadamente a evolução do número de diplomados – quer em termos agregados como por curso ou área de formação – são importantes para aferir a relevância dada pela população estudante na prossecução de qualificações mais elevadas.

O número de diplomados aumentou de forma significativa nos últimos anos, mas apenas em algumas áreas de formação. Existe alguma relação entre as variações no número de diplomados e a empregabilidade das diversas áreas de formação?

O NÚMERO DE DIPLOMADOS DO ENSINO SUPERIOR EM 2019/2020 É O MAIS ALTO DESDE 2013/2014

O número de diplomados no ensino superior – em cursos de licenciatura e de mestrado integrado – registou um aumento significativo de aproximadamente 7% entre os anos letivos de 2013/14 e 2019/20.

Este crescimento esconde duas dinâmicas diferentes ao longo deste período. Por um lado, entre os anos letivos 2013/2014 e 2015/2016, o número de diplomados caiu aproximadamente 4%. Esta queda acompanhou a diminuição do número de alunos inscritos nestes níveis de ensino, que se fixou em 4% apenas num ano letivo – de 2013/2014 para 2014/2015. O período de recessão económica resultante da crise financeira poderá ter sido um fator determinante na decisão dos jovens continuarem ou não os seus estudos após o ensino secundário.

Por outro lado, esta tendência negativa foi invertida no ano letivo 2015/2016, de tal forma que os diplomados de licenciaturas e mestrados integrados aumentaram cerca de 12% entre 2015/2016 e 2019/2020.

Evolução do número de diplomados do Ensino Superior entre o ano letivo 2013/2014 e 2019/2020

FONTE: DGEEC, FJN/BRIGHTER FUTURE1

MAS SERÁ QUE ESTE AUMENTO FOI UNIFORME EM TODAS AS ÁREAS DE FORMAÇÃO?

Apesar do crescimento dos diplomados do ensino superior entre 2013/2014 e 2019/2020, a variação por área de formação evidencia diferenças significativas: algumas áreas registaram um crescimento de diplomados, enquanto noutras o número de diplomados diminuiu.  

Proporção dos diplomados por área de formação em 2019/2020 e variação do número de diplomados entre os anos letivos 2013/2014 e 2019/2020

FONTE: DGEEC, FJN/BRIGHTER FUTURE1

Matemática e estatística’ foi a área que registou o maior aumento, de aproximadamente 98%, ou seja, o número de diplomados desta área quase duplicou no período em questão. Ainda assim, esta área de formação representava, em 2019/2020, menos de 1% dos alunos diplomados nos cursos de licenciatura e mestrado integrado.

À semelhança de ‘Matemática e estatística’, as outras duas áreas de formação com maior crescimento de diplomados - ‘Serviços de transporte’ (80%) e ‘Informática’ (40%) - também continuam a representar um número pouco significativo de diplomados no ano letivo 2019/2020.

Em sentido oposto, houve um conjunto significativo de áreas de formação com uma diminuição no número de diplomados entre 2013/2014 e 2019/2020.

A área de ‘Arquitetura e construção’ foi a que registou a maior queda, aproximadamente 49%. Esta é a única área de formação que decresceu face a 2013/2014 e que, simultaneamente, representava mais de 3% dos diplomados em 2019/2020.

As restantes áreas de formação com uma queda superior a 30% representavam, cada uma, menos de 1% dos diplomados em 2019/2020:

_Proteção do ambiente

_Indústrias transformadoras

_Serviços de segurança

Das áreas de formação que representavam pelo menos 15% dos diplomados em 2019/2020, ‘Saúdefoi a única que registou uma diminuição de diplomados desde 2013/2014 (aproximadamente -5%). Já as duas outras áreas registaram um aumento significativo de diplomados, reforçando portanto a sua relevância:

_Engenharias e técnicas afins: 24%

_Ciências empresariais: 30%

QUAL A RELAÇÃO ENTRE AS VARIAÇÕES NO NÚMERO DE DIPLOMADOS E EMPREGABILIDADE?

A maior procura dos estudantes por determinadas áreas de formação do ensino superior em detrimento de outras poderá dever-se à perceção de que essas áreas garantem uma melhor transição para o mercado de trabalho e, consequentemente, uma maior empregabilidade no curto a médio prazo, bem como uma maior estabilidade laboral.

Para avaliar esta possibilidade, analisa-se a associação entre a variação do número de diplomados com dois indicadores relacionados com a empregabilidade dos recém-diplomados. O primeiro indicador é a propensão ao desemprego dos recém-diplomados do ensino superior nos quatro anos letivos anteriores, disponibilizado pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), e que permite aferir a facilidade ou dificuldade da sua entrada no mercado de trabalho. Este indicador é útil mas, por ser baseado nos desempregados registados no IEFP, pode ser influenciado pela propensão dos diplomados de diferentes áreas de formação se inscreverem ou não no IEFP, o que poderá depender, por exemplo, da expectativa de encontrarem emprego por esta via. Além disso, este indicador não permite avaliar a qualidade do emprego dos restantes recém-diplomados que se encontram a trabalhar e que podem ter empregos desadequados quer à área de formação como ao nível de ensino que acabaram de completar. Para captar este desfasamento entre a educação e o emprego, analisa-se um segundo indicador : percentagem de diplomados sobrequalificados, ou seja diplomados de licenciaturas e mestrados empregados em empresas mas cujas ocupações são pouco complexas e não exigem um grau do ensino superior.

Será que as áreas de formação com maior crescimento de diplomados nos últimos anos são também as que registam menor propensão ao desemprego e menor percentagem de diplomados sobrequalificados?

AS ÁREAS COM MAIOR CRESCIMENTO DE DIPLOMADOS TENDEM A APRESENTAR MENOR PROPENSÃO AO DESEMPREGO, MAS HÁ EXCEÇÕES

A associação entre a variação dos diplomados em licenciaturas e mestrados integrados entre os anos letivos 2013/2014 e 2019/2020 e a propensão ao desemprego em 2019 por área de formação é negativa, embora fraca. Ou seja, as áreas com maior crescimento de diplomados tendem a apresentar menor propensão ao desemprego e vice-versa.

Variação do número de diplomados entre os anos letivos 2013/2014 e 2019/2020 e propensão ao desemprego dos recém-diplomados em 2019

FONTE: DGEEC, IEFP, FJN/BRIGHTER FUTURE2

As áreas de formação com o maior crescimento de diplomados – ‘Matemática e estatística’, ‘Serviços de transporte’ e ‘Informática’ – apresentaram, em 2019, níveis de propensão ao desemprego inferiores à média (3,6%).

No polo oposto, as áreas de formação com maior decréscimo de diplomados entre 2013/2014 e 2019/2020 – ‘Arquitetura e construção’, ‘Proteção do ambiente’ e ‘Indústrias transformadoras’ – registaram, em 2019, níveis de propensão ao desemprego superiores à média (3,6%).

Mas esta associação não é perfeita e há exceções. Por exemplo, apesar dos diplomados em ‘Serviços de segurança’ terem decrescido cerca de 34% entre 2013/2014 e 2019/2020, a propensão ao desemprego, em 2019, era a mais baixa de todas as áreas de formação. Todavia, esta área de formação representava, no ano letivo de 2019/2020, menos de 0,1% dos diplomados.

Outro exemplo é a área ‘Informação e jornalismo’, que é a segunda área com maior propensão ao desemprego (6,3%) e que registou um aumento de diplomados na ordem dos 12%.

ALGUMAS ÁREAS COM UM AUMENTO DE DIPLOMADOS TÊM UMA TAXA DE SOBREQUALIFICAÇÃO ACIMA DOS 40%

Em geral, e apesar de fraca, a associação entre a variação de diplomados e desemprego é no sentido esperado: maior crescimento de diplomados nas áreas com menor propensão ao desemprego. No entanto, isso não se verifica na associação entre variação de diplomados e sobrequalificação, uma vez que, em média, as áreas com maior crescimento de diplomados tendem a apresentar maior percentagem de diplomados a trabalharem em ocupações pouco complexas e vice-versa. Ou seja, o desemprego oferece uma perspetiva limitada que importa complementar com a qualidade do emprego.

Variação do número de diplomados entre os anos letivos 2013/2014 e 2019/2020 e sobrequalificação das pessoas ao serviço em empresas entre 25-34 anos com licenciatura ou mestrado em 2016 a 2018

FONTE: DGEEC, IEFP, FJN/BRIGHTER FUTURE2

À semelhança da anterior, a associação entre a variação do número de diplomados e a percentagem de sobrequalificados não é particularmente forte. Enquanto as áreas de formação com decréscimo de diplomados se caracterizam por uma taxa de sobrequalificação abaixo da média, há bastante mais variabilidade nas áreas de formação com um crescimento de diplomados entre os 10 e os 40%:

_As áreas ‘Serviços Pessoais’ e ‘Humanidades’ apresentam taxas de sobrequalificação acima dos 70%;

_As áreas ‘Informação e jornalismo’, ‘Ciências empresariais’ e ‘Ciências sociais e do comportamento’, ‘Agricultura, silvicultura e pesca’ e ‘Ciências da vida’ apresentam taxas de sobrequalificação na ordem dos entre os 25 a 45%;

_As áreas ‘Engenharias e técnicas afins’ e ‘Ciências veterinárias’ têm taxas de sobrequalificação abaixo dos 15%.

Também há uma grande variabilidade nas áreas de formação com um grande crescimento de diplomados, mas estas caracterizam-se por terem pouco peso no conjunto dos diplomados.

QUAIS AS ÁREAS QUE SE DESTACAM TENDO EM CONTA OS DOIS INDICADORES?

Considerando as áreas de formação mais representativas do universo de diplomados, destacam-se as áreas de de ‘Humanidades’ e ‘Informação e jornalismo’ por terem um aumento de diplomados acima dos 12% e contarem com indicadores de empregabilidade pouco animadores.

No extremo posto, ‘Engenharia e técnicas afins’, mas principalmente ‘Informática’, caracterizam-se por um crescimento de diplomados associado a boas perspetivas no mercado de trabalho.

Em sentido contrário, destaca-se a área de formação da ‘Saúde’ por ter indicadores de empregabilidade positivos mas um decréscimo de diplomados entre 2013/2014 e 2019/2020.

1SÃO CONSIDERADOS OS CURSOS DE LICENCIATURA E MESTRADO INTEGRADO
2SÃO CONSIDERADOS OS CURSOS DE LICENCIATURA E MESTRADO INTEGRADO. A DIMENSÃO DE CADA CÍRCULO INDICA A PROPORÇÃO DE DIPLOMADOS EM 2019/2020 EM CADA ÁREA DE FORMAÇÃO.
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