O Impacto da Covid-19 no Emprego e Desemprego

Poucos anos depois de sentir os efeitos da Grande Recessão económica e financeira, e no culminar de um processo de recuperação, Portugal vê-se a braços com uma nova e grave crise económica e social. 

O PIB nacional caiu mais de 16% no segundo trimestre de 2020 face ao trimestre comparável anterior à crise (2018-2019).

Mesmo com a forte recuperação no terceiro trimestre, a queda manteve-se perto dos 6% nos dois últimos trimestres do ano. Apesar das medidas de apoio ao emprego, o número de pessoas empregadas caiu em cerca de 99 mil.

O CHOQUE PANDÉMICO FOI MAIS INTENSO PARA O EMPREGO DOS MAIS JOVENS…

As duas crises, ainda que por razões diferentes, penalizaram sobretudo os mais jovens. Os dados da evolução da população empregada (em percentagem da população total) desde 2011 mostram de forma clara que as quedas de empregabilidade nos quatro trimestres de 2020 (em particular no segundo) foram significativamente mais fortes para os jovens em início de carreira (25-34 anos), abrindo um novo hiato de empregabilidade face às gerações mais velhas. 

No segundo trimestre de 2020, os mais jovens viram a sua taxa de emprego cair cerca de 5,7 pontos percentuais face ao trimestre homólogo de 2019, o que correspondeu a menos 60 mil pessoas empregadas. Para os adultos mais velhos (35-54 anos) a queda não chegou a 1 ponto percentual. 

Os efeitos no emprego da atual crise pandémica não parecem ainda tão dramáticos quando comparados com o anterior período de crise económico-financeira. A taxa de emprego dos mais jovens chegou a ser no primeiro trimestre de 2013 de apenas 71%, que compara com valores próximos dos 79%, mesmo no pior trimestre de 2020.

Taxa de emprego e desemprego trimestral por faixa etária 

FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN1

O DESEMPREGO SUBIU MAS DESFADO POR UM TRIMESTRE

O desemprego é, em grande medida, o espelho desta evolução, ainda que os fortes efeitos no desemprego durante o ano de 2020 parecem desfasados pelo menos por um trimestre, fazendo-se sentir sobretudo no terceiro trimestre. O confinamento durante o segundo trimestre de 2020, por um lado, e o posterior desconfinamento durante o verão de 2020, por outro, explicam que a procura de emprego daqueles que o perderam durante a pandemia tenha aumentado durante este último período.

Deste modo, numa altura de baixa incidência da doença, o desemprego jovem voltou a passar a marca dos 10%, um aumento de cerca de quatro pontos percentuais face ao mesmo trimestre de 2019 - valor correspondente a mais de 38 mil pessoas nessa situação.

Ainda assim, e mesmo que a pandemia tenha já implicado uma perda equivalente a três anos de recuperação económica, também aqui os valores em 2020 continuavam muito longe daqueles relativos ao pico da anterior crise, que levou as taxas de desemprego aos cerca de 21%.  Numa primeira fase, o número de desempregados entre os mais jovens resultou sobretudo do aumento dos despedimentos, de rescisões de contrato ou de falências de negócios pessoais. É no quarto trimestre de 2020 que dispara o desemprego jovem devido à conclusão e não renovação de contratos de duração limitada. 

OS MENOS ESCOLARIZADOS TAMBÉM SOFREM MAIS COM A PANDEMIA

O nível de qualificação dos jovens não é indiferente enquanto fator de risco. A variação dos níveis de emprego e desemprego nos quatro trimestres de 2020 face à média dos trimestres homólogos dos dois anos anteriores revela que mais escolaridade é um fator protetor muito importante, suavizando a quebra de emprego e o aumento dos níveis de desemprego durante a crise pandémica.

A queda da taxa de emprego no segundo trimestre face aos trimestres homólogos foi semelhante para os jovens com ensino superior e secundário (-5 pontos), mas muito mais pronunciada nos que apenas terminaram o ensino básico (-8.5 pontos). A taxa de emprego destes últimos continuou em queda no terceiro trimestre e recuperou ligeiramente no último trimestre do ano, ficando ainda 6,3 pontos abaixo da média dos 2 anos anteriores.

Já para os jovens mais escolarizados, a recuperação da taxa de emprego inicia-se logo no terceiro trimestre, principalmente para os diplomados do ensino superior, que chegam ao quarto trimestre com uma taxa de emprego em linha com os anos anteriores.  

Taxa de emprego e desemprego trimestral dos jovens adultos por nível de escolaridade

FONTE: INQUÉRITO AO EMPREGO (INE), FJN2

O aumento das taxas de desemprego face aos trimestres homólogos foi sentido particularmente no terceiro trimestre de 2020 e impactou sobretudo os jovens sem ensino superior. Nesse trimestre, o aumento da taxa de desemprego dos jovens com ensino básico e secundário foi de 4,5 e 5,2 pontos, o que corresponde a aumentos de 60% e 80%, respetivamente. Já os jovens diplomados do ensino superior viram a taxa de desemprego aumentar 2,1 pontos face aos anos anteriores. 

1FAIXAS ETÁRIAS: 25-34 ANOS E 35-54 ANOS.
2JOVENS ADULTOS 25-34 ANOS. VER ANEXO METODOLÓGICO PARA MAIS INFO SOBRE OS NÍVEIS DE ESCOLARIDADE

Este insight  faz parte do relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal” que pode ser consultado  aqui.

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