A entrada para o mercado de trabalho tornou-se mais difícil durante a pandemia

A crise sanitária teve efeitos na entrada para o mercado de trabalho, principalmente entre os mais jovens que, tradicionalmente, estão entre os mais vulneráveis nos ciclos económicos recessivos.

Estes períodos são ainda mais desafiantes entre os jovens que terminam um grau de ensino e pretendem entrar no mercado de trabalho pois, tipicamente, não têm experiência profissional e concorrem com grupos de jovens trabalhadores com mais experiência e competências profissionais.

EM 2020, MENOS JOVENS QUE TERMINAM CICLOS DE ESTUDOS ESTIVERAM EMPREGADOS

Em 2020, apenas 72,8% dos jovens entre os 20 e os 34 anos que tinham completado um nível de escolaridade nos últimos 3 anos, estavam empregados, o que representa uma queda acentuada que interrompe a tendência positiva que se vinha a verificar desde 2012. A queda foi mais acentuada entre os que terminaram um curso superior, apesar da taxa de emprego destes recém-diplomados continuar acima dos que terminaram o ensino secundário. Em 2021, já se verificou uma ligeira recuperação para os 74,2%.

Taxa de Emprego dos recém-formados dos 20 aos 34 anos por nível de escolaridade

FONTE: EUROSTAT (1)

A QUEDA DA TAXA DE EMPREGO DO ENSINO SECUNDÁRIO DEVEU-SE AO ENSINO VOCACIONAL

A desagregação da evolução da taxa de emprego dos recém-formados do ensino secundário, entre o ensino geral e vocacional, revela uma inversão da tendência em 2021 face aos anos anteriores.

Se desde 2016 a taxa de emprego dos que terminaram o ensino secundário pela via profissionalizante tinha sido sempre superior à dos que terminaram o ensino secundário pela via geral (científico-humanístico), o ano de 2021 inverteu esta tendência: a taxa de emprego dos que terminaram o ensino secundário pela via geral fixou-se nos 71,6% face aos 64% do ensino secundário vocacional.

Enquanto as taxas de emprego dos que terminaram o ensino secundário geral e o ensino superior recuperaram face à queda registada em 2020, a taxa de emprego do ensino secundário vocacional decresceu cerca de 6,7 pontos percentuais entre 2020 e 2021. De facto, desde 2017 que a taxa de emprego dos recém-formados dos 20 aos 34 anos do ensino secundário vocacional está em tendência decrescente.

Contrariamente ao verificado em Portugal, a média europeia (UE-27) da taxa de emprego do ensino secundário vocacional fixou-se, em 2021, nos 76,4% face aos 61,2% da taxa de emprego do ensino secundário geral: diferença de 15,2 pontos percentuais a favor do ensino secundário vocacional.

Taxa de Emprego dos recém-formados dos 20 aos 34 anos por tipo de ensino secundário e ensino superior

FONTE: EUROSTAT (2)

O DESEMPREGO DOS RECÉM-DIPLOMADOS TAMBÉM AUMENTOU

A proporção de recém-diplomados inscritos como desempregados no IEFP também aumentou em 2020, invertendo a tendência de melhoria que se vinha a verificar desde 2014. Comparando com 2019, a propensão ao desemprego dos recém-diplomados de cursos de licenciatura aumentou em 2020 em cerca de 1,6 pontos percentuais – de 3,7% em 2019 para 5,3% em 2020.

A propensão ao desemprego aumentou nos recém-diplomados de todas as áreas de formação. O aumento mais expressivo da propensão ao desemprego sentiu-se entre os diplomados da área de formação ‘Serviços pessoais’ – de 3,8% em 2019 para 8,9% em 2020. O efeito foi menos expressivo na área de ‘Saúde’.

Propensão ao desemprego dos recém-diplomados por área de formação

FONTE: INFOCURSOS (DGEEC) E FJN (3)

Estes dados apontam para uma ausência de retorno das competências recentemente desenvolvidas nos ciclos de estudo e são preocupantes, tendo em conta a larga evidência que aponta para a existência de efeitos negativos nas carreiras profissionais no longo prazo para as gerações que entram no mercado de trabalho num período recessivo.

Este insight faz parte do relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação 2022: Educação, Emprego e Competências em Portugal

NOTAS:
(1) É CONSIDERADA A POPULAÇÃO ENTRE OS 20 E OS 34 ANOS QUE TERMINOU O ENSINO BÁSICO, SECUNDÁRIO OU SUPERIOR NOS 3 ANOS ANTERIORES AO ANO DE REFERÊNCIA DO INQUÉRITO E QUE NÃO PARTICIPOU EM EDUCAÇÃO OU FORMAÇÃO NESSE ANO.
(2) É CONSIDERADA A POPULAÇÃO ENTRE OS 20 E OS 34 ANOS QUE TERMINOU O ENSINO SECUNDÁRIO (GERAL OU VOCACIONAL) OU SUPERIOR NOS 3 ANOS ANTERIORES AO ANO DE REFERÊNCIA DO INQUÉRITO E QUE NÃO PARTICIPOU EM EDUCAÇÃO OU FORMAÇÃO NESSE ANO.
(3) PROPENSÃO AO DESEMPREGO: RÁCIO ENTRE OS RECÉM-DIPLOMADOS REGISTADOS COMO DESEMPREGADOS NO IEFP EM CADA ANO E TODOS OS ALUNOS QUE SE DIPLOMARAM EM CURSOS DE CADA ÁREA DE FORMAÇÃO NOS QUATRO ANOS LETIVOS ANTERIORES. CONSIDERAM-SE APENAS OS CURSOS DE LICENCIATURA COM PELO MENOS 30 ALUNOS DIPLOMADOS NO PERÍODO DE REFERÊNCIA. CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE FORMAÇÃO DE ACORDO COM A CNAEF 2003
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