Durante a pandemia aumentou o acesso ao ensino superior, mas também o seu abandono

A PANDEMIA LEVOU MAIS JOVENS A CANDIDATAREM-SE AO ENSINO SUPERIOR

Em tempos de pandemia, aumentaram as candidaturas ao ensino superior, provavelmente devido ao menor incentivo em entrar diretamente num mercado de trabalho envolto em incerteza e fracas perspetivas para os que terminam o ensino secundário.

O número de candidatos ao ensino superior cresceu e ultrapassou o valor máximo desde 1996. No ano letivo de 2021/22, foram cerca de 64 mil os candidatos ao ensino superior, o que representa um aumento de 2% face ao ano letivo anterior que, por sua vez, também havia ultrapassado os valores pré-pandémicos.

Esta situação resultou num aumento da taxa de ocupação do ensino superior, medida pelo rácio entre o número de estudantes colocados e o número de vagas, e que se fixou em 93% em 2020/21.

O NÚMERO DE INSCRITOS NO 1º ANO DO ENSINO SUPERIOR AUMENTOU

O aumento de vagas e candidaturas levou naturalmente ao crescimento do número de inscritos no 1º ano 1ª vez, que se fixou nos 8%. Esta variação foi particularmente mais significativa no ensino superior Público Politécnico, 11%.

Inscritos pela 1ª vez no 1º ano do ensino superior, por natureza do estabelecimento e tipo de ensino

FONTE: INQUÉRITO AO REGISTO DE ALUNOS INSCRITOS E DIPLOMADOS DO ENSINO SUPERIOR, DGEEC

Este aumento no número de alunos inscritos 1º ano 1ª vez verificou-se em todas as áreas de formação, mas foi mais acentuado nas áreas da ‘Agricultura, silvicultura, pescas e ciências veterinárias’, ‘Educação’ e dos ‘Serviços’. No caso da área ‘Saúde e proteção social’ a variação, embora positiva, foi inferior à média: 7%.

Em termos absolutos, o aumento foi mais significativo nas áreas de formação que, quer no ano letivo 2019/2020 como 2020/2021, já tinham o maior número de inscritos: ‘Ciências empresariais, administração e direito’ com um aumento superior a 2500 inscritos e a área de ‘Engenharia, indústrias transformadoras e construção’ com uma variação de mais de 1700 entre os dois últimos anos letivos.

Para além destas, também as áreas das ‘Ciências sociais, jornalismo e informação’, ‘Saúde e proteção social’ e ‘Serviços’ registaram um aumento superior a 1200 inscritos entre os anos letivos 2019/2020 e 2020/2021.

Variação do número de Inscritos pela 1ª vez no 1º ano do ensino superior, por área de formação e educação

FONTE: INQUÉRITO AO REGISTO DE ALUNOS INSCRITOS E DIPLOMADOS DO ENSINO SUPERIOR, DGEEC

MAS O ABANDONO DO ENSINO SUPERIOR TAMBÉM AUMENTOU

Por outro lado, houve um aumento na taxa de abandono do ensino superior entre os alunos que se haviam inscrito no ensino superior um ano antes. A taxa de abandono, que registava quedas sucessivas nos anos mais recentes, aumentou durante a pandemia, principalmente no ensino universitário. No conjunto dos anos letivos 2018/19 e 2019/20, 8,1% dos estudantes que se tinham matriculado no ensino universitário um ano antes, abandonaram o sistema – um aumento de 1 ponto percentual. O aumento da taxa de abandono verificou-se sobretudo nas licenciaturas e nos mestrados integrados. Apesar da queda muito ligeira nos CTeSP e nos mestrados de 2º ciclo, os valores da taxa de abandono continuavam muito elevados, acima dos 15%.

Infelizmente, não existem dados que permitam aferir os efeitos das medidas de contenção pandémica em termos das competências adquiridas pelos alunos do ensino superior. No entanto, a queda da participação em programas de mobilidade internacional verificada em 2020 pode indicar perdas na aquisição de competências de natureza transversal.

Este insight faz parte do relatório da Fundação José Neves “Estado da Nação 2022: Educação, Emprego e Competências em Portugal” que pode ser consultado na íntegra aqui.

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