Como evolui um sistema de ensino?

_ O sistema de ensino em Portugal tem cerca de 700 anos, mas só há 60 anos é que o ensino primário é obrigatório. Só a partir de 2001 é que a taxa de analfabetismo em Portugal passou a ser inferior a 10% da população. O ensino secundário só é obrigatório desde 2009.
_ O ritmo de evolução dos sistemas de ensino tem vindo a acelerar com a introdução de novas tecnologias e métodos de ensino, mas há 6 princípios basilares que têm guiado a transformação.
_ Maior abrangência e uma educação mais inclusiva, a importância do investimento em recursos humanos e materiais, a educação baseada em evidências, a adoção de tecnologias, a formação dos professores e o ensino de competências transversais a diferentes áreas de estudo são as principais tendências que vão continuar a moldar a evolução do sistema de ensino.

Vivemos tempos de rápida e profunda mudança. Para melhor responder às necessidades atuais, o sistema de ensino e as instituições deverão acompanhar estas transformações, projetando o futuro da educação com sentido crítico.

Do século XIII aos dias de hoje: a evolução do sistema de ensino em Portugal

As primeiras instituições de ensino em Portugal estavam intimamente ligadas à religião católica. A Universidade mais antiga do país é também uma das mais antigas do mundo – a Universidade de Coimbra, fundada em 1290. Em 1837, nascem as primeiras escolas politécnicas, uma no Porto e outra na capital, que posteriormente foram fundidas nas universidades do Porto e de Lisboa. Em 1971, a Universidade Católica Portuguesa foi fundada e nos anos seguintes muitas outras universidades públicas foram estabelecidas.

Mais recentemente, um dos principais marcos de transformação do sistema de ensino superior deu-se em 2006, com a adoção do Processo de Bolonha. Esta transição levou a reformas profundas das universidades e politécnicos em Portugal.

O Processo de Bolonha veio introduzir no sistema de ensino superior o European Credit Transfer System (ECTS) e mecanismos de mobilidade, que permitem aos estudantes escolher outros países para dar continuidade à sua formação por um determinado período de tempo. Esta estrutura foi introduzida em 2006 e totalmente implementada em Portugal no ano letivo de 2009/2010, mantendo-se até aos dias de hoje.

Hoje, com 107 instituições de ensino superior e mais de 4.700 cursos, o ensino superior em Portugal divide-se entre universitário e politécnico, ministrado por instituições de ensino públicas ou privadas, que cooperam ativamente com a Direção-Geral do Ensino Superior – DGES na construção do futuro do Ensino Superior.

As instituições de ensino superior têm autonomia científica, cultural e disciplinar. Neste sentido, cada universidade ou politécnico pode definir, programar e executar a investigação a atividades científicas, bem como o definir o programa de formação de iniciativas culturais. No âmbito pedagógico, as instituições têm capacidade para elaborar os planos de estudos e métodos de ensino e de avaliação e definir o objeto das unidades curricular.

Desde 2010, o sistema de Ensino Superior está integrado no European Higher Education Area - EHEA, uma colaboração que reúne 48 países com um compromisso comum: promover uma educação sustentada em reformas estruturais e ferramentas compartilhadas. Esta visão assenta em valores-chave da educação como liberdade de expressão e académica, autonomia, livre circulação de estudantes e educadores.

Países como Portugal adaptam continuamente os seus sistemas de ensino superior, tornando-os mais compatíveis e fortalecendo os seus mecanismos. Só assim é possível garantir que o ensino superior chega aos estudantes com qualidade, com oportunidades de mobilidade e de empregabilidade.

A evolução do sistema de ensino português
Fonte: Comissão Europeia

Como evolui um sistema de ensino?

Historicamente, os sistemas de ensino têm evoluído no sentido de dar a todos os estudantes uma oportunidade de educação ao longo da vida. Os sistemas de ensino devem organizar-se de forma a permitir a exploração de múltiplas competências dos estudantes, nos domínios académico, comportamental e socio-emocional.

Quando olhamos para o futuro, esperamos que o ensino seja mais atrativo para alunos e professores, que promova a inclusão e atente na diversidade. Também esperamos que permita que os alunos aprendam mais e de diferentes formas, que persigam as competências do futuro e os empregos de e com futuro – a empregabilidade.

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Para isso, as políticas educativas devem espelhar práticas e modelos pedagógicos diferenciadores, holísticos e baseados em evidências. Um sistema de ensino apenas poderá conseguir evoluir e acompanhar as tendências da educação e do mercado laboral com sucesso, através do desenvolvimento de novas políticas educativas. Tradicionalmente, a evolução do ensino tem assentado em princípios fundamentais:

#1 Educação inclusiva e equitativa

Os estudantes aprendem melhor quando integrados em sistemas de ensino inclusivos. Isto é, um ensino que mobilize recursos de forma a oferecer apoios diferenciados de acordo com as necessidades de todos os estudantes. A educação deve atender à diversidade dos estudantes de forma equitativa.

#2 Investimento em recursos

Sistemas de ensino bem-sucedidos exigem mais e melhores investimentos – sejam eles financeiros, humanos, técnicos, logísticos ou pedagógicos. Cabe aos governos, empresas e instituições garantir que os estudantes têm acesso a educação de qualidade e acessível.

#3 Estratégias educativas baseadas em evidência

As práticas educativas devem suportar-se na melhor evidência disponível sobre o seu impacto na aprendizagem dos estudantes. Para isso, o recurso à tecnologia tem sido uma tendência histórica, que dá às instituições e a quem ensina dados acionáveis sobre como transmitir as mensagens certas.

Recentemente, a evolução do Big Data parece promissora neste campo e promete ajudar a personalizar ainda mais o ensino. Com a ubiquidade dos dados levantam-se também questões de privacidade e ética a que as instituições terão de responder antes de os poder integrar nas suas estratégias educativas.

#4 Competências transversais

O que se aprende deve estar para além de conhecimentos específicos de cada área de estudo. A evolução do ensino tem sido no sentido de promover as competências metacognitivas implicadas na aprendizagem. Alguns exemplos são o “aprender a aprender”, a gestão do quotidiano, autonomia, saúde e proteção.

Além disso, empreendedorismo, civismo, cultura escolar positiva, ambiente, sustentabilidade, comunicação interpessoal, inteligência emocional, sentido crítico, ética, artes, criatividade, práticas meditativas, fazem parte de um leque de competências que se prevê vir a crescer e a enriquecer o percurso educativo ao longo da vida.

#5 Tecnologia e realidade aumentada

A utilização de tecnologias tem-se mostrado útil para apoiar os estudantes no processo de exploração e aprendizagem. A realidade aumentada, por exemplo, pode fornecer um conjunto de estímulos que torna a aprendizagem mais significativa. Além disso, a tecnologia permite o acesso e partilha da informação de forma mais rápida e massiva. Os professores deverão estar preparados para esta realidade e motivar os alunos a explorar estes temas.

#6 Ensinar os professores

Os professores, como os estudantes, necessitam de uma atualização frequente de conhecimentos. O ensino evolui pela criação de recursos pedagógicos atuais e construídos em rede pela partilha de experiências. O recrutamento de professores deverá considerar competências de relacionamento interpessoal e capacidade para motivar para a aprendizagem.

O conhecimento científico produzido e as variadas experiências internacionais permitem-nos perspetivar as melhores práticas para a educação do futuro. Porque queremos uma educação promissora, assente num sistema de ensino inovador e potenciador das melhores capacidades humanas.

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